No final de 1857, o estudante Ashbel Green Simonton recebeu em seu próprio quarto no Seminário de Princeton a visita do Rev. John Leighton Wilson, secretário executivo da Junta de Missões Estrangeiras, em Nova York. Esse líder incentivou o jovem a considerar o Brasil como um possível campo de trabalho. Um ano depois, Simonton escreveu à Junta apresentando-se formalmente como candidato ao trabalho missionário no exterior. Segue abaixo a tradução integral desse documento valioso e inédito, aqui publicado pela primeira vez, cujo original se encontra na Sociedade Histórica Presbiteriana, em Filadélfia (EUA). Para uma cópia da carta original, ver a seção Fotos. É interessante observar que Simonton menciona várias vezes o Brasil, mas também está disposto a ir para qualquer outro lugar que a Junta decidir.
Harrisburg, 24.11.1858
Ao Comitê Executivo da Junta de Missões Estrangeiras
Caros Srs.,
Os senhores sabem que por algum tempo tenho considerado o propósito de me oferecer para ser nomeado pelos senhores como missionário estrangeiro. Tardei a dar esse passo pela incerteza que existia quanto a se eu poderia fazer esse oferecimento com o propósito de levar comigo uma esposa ou ir solteiro. Como essa questão finalmente foi decidida, apresso-me a fazer minha solicitação formal de uma nomeação. A expectativa que expressei em uma carta anterior foi desapontada. Só posso colocar a mim mesmo à disposição dos senhores. Como presumo que os senhores só estão preocupados com o evento, eu não irei, pelo menos nesta carta, entrar em qualquer explicação de como ele ocorreu. Sinto que é meu dever considerar esta decisão como vinda de Deus e submeter-me a ela sem qualquer murmuração.
Suponho não ser necessário dizer muito sobre as ideias e sentimentos que me levaram a buscar um campo de trabalho no exterior. Essa decisão não foi tomada apressadamente nem sem muita consideração em oração. Nada jamais me custou tanta ansiedade e perplexidade mental. Obstáculos imprevistos têm me oprimido. Às vezes tenho sido aconselhado por outros a considerar essas coisas como indicadoras de que minha esfera designada de trabalho seria neste país. E com frequência minhas próprias inclinações têm secundado esses argumentos. Porém jamais pude levar seja o meu julgamento ou a minha consciência a descansarem satisfeitos com essa decisão. A grande obra das missões estrangeiras em sua vasta extensão e urgente importância tem estado continuamente na minha mente e a providência de Deus tanto neste país quanto no exterior parece apontar para esse como o grande dever da igreja nestes dias. As considerações que têm tido maior influência sobre mim têm sido simplesmente as ordens e promessas de Deus acerca da difusão e êxito universal da sua verdade – as maneiras maravilhosas e notáveis pelas quais Ele está abrindo amplas portas para o esforço missionário, o êxito que já tem alcançado os débeis esforços da igreja nessa direção e o pequeno número daqueles que podem ir ou irão para o exterior. O grande impedimento no trabalho das missões estrangeiras, pelo menos no que diz respeito à nossa igreja, é a falta de disposição dos jovens para ir, e não da igreja em enviá-los.
Portanto, embora eu nada veja em mim mesmo, em minhas qualificações ou circunstâncias que torne meu dever de ir maior que o de outros, exceto este, de que fui levado por Deus a pensar nessa obra e a sentir frequentemente fortes impulsos para empenhar-me nela, sou incapaz de dar à minha própria consciência ou ao meu Deus qualquer razão satisfatória para permanecer neste país. É exatamente o que ocorre comigo neste caso. Considero uma dura provação romper os laços que precisarão ser rompidos quando eu for. Tenho muitas dúvidas quanto à minha aptidão e sobre como será comigo quando eu chegar ao meu campo de trabalho, e, no entanto, sinto-me persuadido de que o único caminho aberto para mim é ir. Um sermão do Dr. Hodge em meu primeiro semestre em Princeton levou-me pela primeira vez a refletir sobre o meu dever em relação a missões estrangeiras, e então resolvi examinar a questão seriamente e em oração, não permitindo que nada interferisse nessa decisão. Três anos se passaram e, embora eu não tenha aquela segurança que desejo ter, todavia estou convicto de que agindo no temor de Deus e para a sua glória eu preciso consentir em ir.
Quanto a um campo de trabalho, minhas preferências não estão tão decididas de modo a inclinar-me para insistir nelas diante da Junta. Não coloco muita confiança em minha capacidade de julgar quanto à minha aptidão para qualquer posto em particular. Todavia, para sua informação, declararei minhas ideias e inclinações na medida em que estão decididas. A América do Sul tem por mais tempo ocupado a minha atenção. Com base na sua posição, ela parece-me apelar à igreja americana pelo verdadeiro evangelho. Ela tem sido esquecida por longo tempo e agora parece ser a hora de ao menos começar o trabalho – quando tão rápidos melhoramentos estão sendo realizados para promover os seus interesses, tanto materiais quanto intelectuais, e antes que a infidelidade suplante a superstição. Portanto, visto que a Junta tem sido levada a pensar no Brasil como um novo campo missionário, sinto-me fortemente inclinado para ele. Sei que uma nova missão no Rio de Janeiro provavelmente irá se deparar com dificuldades e obstáculos incomuns e que não sou suficiente para tal trabalho, mas não creio que estou sendo convocado para falar sobre essas coisas. Confio que não dependo de minha própria força e, além disso, desejo submeter essa questão ao juízo e sadia deliberação do Comitê. É meu desejo que os senhores façam qualquer investigação quanto às minhas qualificações de todo tipo e exerçam o seu melhor juízo seja em me nomear ou me rejeitar para esse posto.
Quanto à questão geral da propriedade de estabelecer essa nova missão quando outras já plantadas estão clamando tão alto por reforços, ainda menos cabe a mim decidir. Todavia, eu não teria qualquer dificuldade em ir para o Brasil na medida em que nosso Mestre nos ordenou pregar o Evangelho a toda nação e a toda criatura – enquanto o Brasil estiver aberto como outras nações e estiver tão desprovido de um conhecimento do caminho da vida, e enquanto não soubermos se esta ou aquela plantação irá prosperar ou ambas sejam igualmente boas. Quero dizer que quando Deus em sua providência abre plenamente outras nações de igual modo e em sua palavra dá a mesma ordem a respeito delas, vejo pouco espaço deixado para a sabedoria do homem exercitar-se em escolher entre elas como campos de trabalho. Devo contentar-me em trabalhar em qualquer uma delas. Para mim esse é um pensamento alegre, quando vejo em uma após a outra uma luz ser acesa nas nações da terra, de que agora é possível com respeito a elas aquilo que antes era impossível de acordo com o plano e propósito de Deus – que os cristãos possam orar com fé e esperar que Deus irá operar nelas uma obra de salvação. A fé vem pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus nas mãos do ministro do evangelho.
Depois do Brasil, a China tem atraído a minha atenção. De fato, no que diz respeito aos meus próprios desejos, pouco importaria para qual desses campos eu fosse nomeado. Estou ansioso para que meus planos sejam aperfeiçoados tão logo quanto possível e estarei pronto para partir tão logo os arranjos necessários possam ser feitos. Portanto, espero que o Comitê tome providências quanto a esta solicitação logo que seja conveniente. Quanto a outras questões, podemos conversar seja por carta ou conforme possam indicar. Possa o Grande Cabeça da igreja, cujos servos somos nós, dar-lhes sabedoria para fazer a sua vontade. Orem por mim para que eu seja capacitado para o seu serviço naquela estação para a qual eu possa ser nomeado.
Respeitosamente,
A.G. Simonton